Livro recomendado

Em Outliers, o último livro de Malcolm Gladwell, é citada a pesquisa do Dr. Daniel Levitin acerca do tempo de prática que é necessária para se atingir um nível de proficiência de qualidade mundial em qualquer campode actividade em que estejamos envolvidos, ou seja, ser considerado dos melhores do mundo na sua área.
Levitin diz: "… são necessárias 10.000 horas de treino para atingir o nível de mestria de um especialista de classe mundial em qualquer área. Estudo atrás de estudo, de compositores, jogadores de basquetebol, escritores de ficção, futebolistas, pianistas, jogadores de Xadrez, este número surge vezes sem conta. Dez mil horas são o equivalente a quase três horas por dia, ou vinte horas por semana de prática durante 10 anos. É claro que isto não se aplica às pessoas que não evoluem com a sua prática, nem explica porque é que algumas pessoas retiram mais da sua prática do que outras. Mas ainda não se encontrou um caso em que uma especialização de nível mundial fosse atingida em menos tempo. Parece que o cérebro leva este tempo para assimilar tudo o que precisa de saber para atingir a verdadeira mestria."

O que Fazer?… Simplesmente Fazer?
A partir desta ideia das 10.000 horas de prática, é possível nivelar as habilidades adquiridas baseada numa escala de horas de magnitude 10:
  • Com 1 hora… sabemos o básico;
  • Com 10 horas… temos uma noção mais abrangente do básico;
  • Com 100 horas… somos um especialista razoável;
  • Com 1.000 horas… somos um especialista avançando;
  • Com 10.000 horas… somos mestres naquilo que fazemos!
Esta ideia surge de leituras sobre pilotos de aviões, que fazem sempre questão de mencionar as horas de voo que estão registadas nos seus brevets. Horas de experiência são uma boa métrica. Reparo que este padrão parece ser recorrente (pelos, menos até ás 100 horas) para mim. Nem sempre se verificam estas horas exactamente, mas a análise da escala de magnitude sustenta-se como verdadeira.

Sendo que 10.000 horas ao longo de 10 anos é uma proposição assustadora, considere isto:
  • 1.000 horas é relativamente fácil de conseguir. Isto é menos do que um ano de trabalho a tempo inteiro.
  • 100 horas ainda é mais fácil de conseguir. Podemos conseguir isto em alguns meses em algumas horas por dia ou semanas, ou fazer tudo de empreitada em duas semanas intensivas.
  • 10 horas a praticar algo, vai torna-lo significativamente melhor na execução dessa tarefa. Se passar 10 horas a ensaiar uma canção, ou a aprender malabarismo, ou a jogar bilhar… você vai aprender alguma coisa.
  • 1 hora? Também vale a pena. Você pode passar uma hora a escrever a sua assinatura vezes e vezes sem conta para ficar com mais estilo. Eu lembro-me de fazer isto algumas vezes quando quis mudar a minha assinatura.
Se encararmos as 10.000 horas para a mestria desta forma conseguimos torná-las menos assustadoras.
Outra forma de abordar esta questão vem do grande orador motivacional Anthony Robbins, que reconta a sua experiência de marcar conferências 3 vezes por dia para alguém que o quisesse ouvir no seu livro Desperte o Gigante Interior.
"Enquanto outros na minha organização, tinham 48 seminários por ano, eu tinha um número similar em duas semanas. Em um mês eu tinha o equivalente a dois anos de experiência. E em um ano, eu tinha o equivalente a uma década de prática e de desenvolvimento. Os meus associados diziam-me que sorte que eu tinha por ter nascido com este talento inato. E eu disse-lhes que a mestria leva o tempo que vocês quiserem que ela leve."

Quando alguém me diz: "Eu não consigo desenhar bem, ou "Eu não sou bom em desporto", ou "Eu não sou um escritor natural". Eu pergunto: "Quantas horas é que passaste a treinar, a praticar?" E é muito raro que a resposta esteja sequer perto das 100 horas, quanto mais das 10.000 horas! Na realidade esta aparente falta de jeito é muito menos a falta de alguma habilidade interior necessária para a execução da tarefa e muito mais uma falta de esforço e de tempo dispendido no exercício da tarefa.

Para mim o ponto principal desta reflexão é não desistir de algo que nós amamos porque aparentemente não somos muito bons nisso. Quase todos os nossos objectivos vão sucumbir a um investimento do nosso tempo – e tempo é algo que todos temos em igual abundância.

Exercício:

1. Pense numa tarefa complexa ou habilidade que foi dominando ao longo da sua vida.
Exemplos: habilidades motoras e de coordenação (xadrez, instrumento musical, um desporto); habilidades relacionadas com o trabalho (Coaching, ensino, neurocirurgia, etc.); habilidades comunicacionais (aprender, francês, japonês, HTML, photoshop, etc).

2. Faça o seu melhor palpite de quantas horas você pôs entre o seu interesse inicial nessa habilidade e a sua mestria neste momento? Qual foi o período de tempo em que utilizou essas horas?

Exemplo: 250 horas durante 1 ano, 100 horas em 8 anos, 1000 horas em 3 meses, etc.

3. Agora escolha uma habilidade ou um projecto em que esteja a trabalhar neste momento, e calcule o seu melhor palpite de quantas horas já colocou até agora nesse mesmo projecto e de quantas mais horas vai precisar para chegar ao nível que deseja.

Exemplo: "Eu já investi 60 horas até agora; e provavelmente preciso de mais 60 horas para atingir o nível que quero."

4. Quando é que gostava de ter o seu projecto terminado ou a sua habilidade dominada com o nível de execução desejado.
Assim temos uma forma simples de calcular de quantas horas são precisas em cada dia, semana, mês ou ano para chegar ao nível desejado no período de tempo que quer.
Divirtam-se, aprendam "milhões" e lembrem-se: Quando se faz o que se gosta, passar tempo na tarefa é um privilégio e não um castigo:)))